Sempre sou procurado por familiares aflitos, desesperados por estarem enfrentando em seus lares problemas relacionados às drogas, ora é um filho, vezes um cônjuge.
Infelizmente me encontro num profundo dilema, pois o desejo é poder dar uma solução prática, objetiva, no entanto, o problema já está generalizado com grandes dimensões de desestabilidade emocional na família e com varias conseqüências sociais e psicológicas atingindo toda ela. Trabalhar para ajudar nestes casos é começar ajuntar os cacos com a esperança de conseguir apontar algumas direções.
Auxiliar nestas situações torna-se complicado, pois, devido aos rumos tomados pela dependência e a co-dependência instaurada, nos fogem as palavras, fazendo-nos sentir impotentes nas orientações devido à desestruturação clara observada por causa da dependência na família e também o total desconhecimento dela sobre o assunto.
Algo difícil, mas que as famílias precisam aprender é informa-se, participar de programas de prevenção, ou seja, iniciar um processo de conhecimento sobre dependência, visando a prevenção evitando comprometimentos maiores no futuro.
No caso, quando existe o problema relacionado as drogas, primeiramente a família deve assumir que há este problema ainda que inicial, e assim, procurar ajuda e não cair na falsa ilusão de que tudo vai passar ou mesmo fingindo nada estar acontecendo.
Sempre em minhas abordagens, procuro de maneira serena tranquilizar aqueles que me procuram, orientando-os sobre o que está ocorrendo com o ente dependente e que não se deve alarmar. Este ente encontra-se doente e está necessitando de ajuda, e esta ajuda terá que partir dele. Cabe aos familiares serem os condutores estando preparados para quando surgirem às oportunidades de ajudá-lo. Procuro também passar aos familiares a desmistificação da doença, das drogas para não ficarem se auto culpando, se auto flagelando pela dependência do ente. Estes momentos não são horas de lamentações ou sentimentos de culpas, de auto piedade e sim de encontrar soluções. Algo fundamental que este momento exige é antes de querer ajudar o ente procurar ajudar a si próprio.
Devido ao longo período da adicção, certamente a família se encontra doente também. É a partir desta busca de tratamento da família que se consegue redirecionar ações para dar suporte real ao ente dependente.
É necessário que pelo menos algum membro da família ou um do cônjuge esteja bem, para conduzir toda a situação e tenha o controle da circunstância. Esta pessoa precisa ter em mente que a todo o momento necessariamente sua sobriedade será exigida.
Não existe uma formula, uma receita pronta para trabalhar a dependência manifestada dentro do âmbito familiar, pois tudo é uma faca de dois gumes (cada caso é um caso), algumas atitudes tomadas podem dar certo para uns e não para outros depende de vários fatores como o auto conhecimento, a estrutural emocional da família, do grau de comprometimento da doença, a idade do dependente, a estrutura social da família bem como do usuário, o nível de co-odependencia. Enfim, depende de um conjunto de fatores.
Segundo meu pensamento, a maneira eficaz que pode ter resultados mais satisfatório seriam estes em relação a família:
1. Encarar a dependência com naturalidade, assumindo-a como doença e buscar tratamento.
2. Buscar meios de auto ajuda para trabalhar a co-odependencia a fim de manter-se a sobriedade.
3. Tomar atitudes prudentes e não deixar ser envolvido pela emoção ou sentimentalismo.
4. Imunizar contra as manipulações que certamente ocorrerão por parte do ente dependente (característica própria da dependência).
5. Buscar de todas as formas a coesão entre os cônjuges.
6. Despir-se do preconceito interior e social buscando sempre informações sobre o assunto.
7. Sejam quais rumos caminharem estar sempre atento e preparado para as tomadas de atitudes.
8. Fomentar a espiritualidade, entregando sem reservas ao Poder Superior e acreditar que vai superar o momento.
Enfim, uma das necessidades fundamentais para conseguir objetivos positivos para superação de uma dependência na família, é aprender com o próprio usuário, pois ele mesmo pode fornecer ferramentas e mecanismos que serão usados para ajudá-los nas oportunidades que surgirem.
Ataíde Lemos
Escritor e poeta