Assisti ontem (26/05/2011) uma matéria no Jornal Nacional, onde a Prefeitura do Rio de Janeiro vai internar os dependentes químicos que ficam se drogando na cidade. Para os leigos ou familiares que tenham seus filhos nas ruas se drogando pode parecer ser um alivio ou uma medida que veio tarde. Pois, ela vem empacotada de um recheio gostoso, ou seja, o governo diz que vai interná-los para tratamento. Porém, acredito que a imensa maioria daqueles que atua nesta área ficou indignada com a medida e sou uma destas.
Pois bem, qualquer pessoa que atua nesta área sabe que não há tratamento involuntário. Quantos noticiários se têm de entidades que para manter seus pacientes dependentes involuntariamente usam de disciplina rígidas e até mesmo de violência? Quantas entidades que para manter uma pessoa internada involuntariamente mantém seus pacientes dopados 24 horas? Com esta medida agora não serão as entidades sociais privadas que usarão destes expedientes, mas sim o Estado.
Não quero com este comentário me solidarizar com os dependentes que não querem se tratar, ou ir contra os familiares que vivem esta situação, mas sim, como alguém que conhece esta realidade, não posso omitir minha posição, por trabalhar a mais de 13 anos no tratamento de dependentes químicos e ter ciência da grande mentira que a prefeitura do Rio está passando para a sociedade.
Há muitas maneiras de se trabalhar o tratamento de dependentes químicos sem usar do expediente que estão propondo como, por exemplo, dar atenção às famílias que tem dependente químico; dar apoio às entidades que atuam nesta área tanto na abordagem de dependentes nas ruas como as que dão tratamentos. Criar hospitais dias (HD) para atender dependentes químicos, ou seja, há muitas maneiras do Estado interferir e dar assistências sem a necessidade de prende-los para exigir que eles se tratem.
O que me parece estar por trás desta medida é limpar a cidade, pois de fato, é duro olhar para alguns lugares públicos, no centro da cidade maravilhosa e ver o retrato da incompetência, da vergonha e da desumanidade onde maltrapilhos estão vivendo uma vida sub-humana, sujando-a e enfeiando-a É preciso fazer alguma coisa para deixar a cidade bonita e jogar o lixo debaixo do pano.
Acredito que esta medida que a cidade do Rio quer adotar deve servir para que as entidades sociais que atuam nesta área levantem suas bandeira para exigir do Estado políticas públicas e o cumprimento delas, para que de fato, possa ser promovido a assistência para estes doentes (dependentes) como os seus familiares e assim, conseguirem livrarem-se deste câncer (drogas) que tem destruído as famílias e a sociedade.
É importante refletir que, se as entidades que atuam nesta área continuarem fazer seus trabalhos silenciosos, sem cobrarem dos poderes públicos o cumprimento constitucional em relação à Saúde o caos das drogas devem aumentar gradativamente e ai medidas como estas anunciadas e até piores ocorrerão. Nós que atuamos nesta área em amor a estes doentes, não podemos omitir nossa responsabilidade se mobilizando para exigir dos governantes políticas sérias em relação às drogas.
Ataíde Lemos
Poeta e escritor