Assisti uma reportagem no Jornal Nacional, onde falava sobre o problema sério das drogas. Nesta matéria um Juiz e também um ex-dependente comentam sobre a internação obrigatória. Nos dois casos eles dizem ser favorável a ela e fazem comentários de que funciona, ou seja, o ex-dependente diz que hoje está em sobriedade graças à internação involuntária. Já o Juiz, relata ser desumano ver alguém morrendo e o Estado, manter-se imune sem fazer nada. Só que ele relata que o dependente além de estar se suicidando, está prejudicando a sociedade com a sua dependência, transparecendo uma questão de ordem pública.
Novamente entro neste tema, por acreditar que há uma indução em querer passar para a sociedade que a internação involuntária cura o dependente, ou seja, estão tentando induzir que a questão não é o dependente querer se curar, mas sim, colocar ele numa entidade forçadamente que ele vai curar-se. Enfim, estão querendo passar para a sociedade algo que vai contra a própria natureza humana, isto é, na imensa maioria das doenças, o tratamento, a cura passa pelo desejo do paciente. Este é conceito básico de saúde.
Por experiência, trabalhando com dependentes químicos por mais de 15 anos, não concordo que a internação involuntária é o caminho para que alguém se recupere de uma doença gravíssima cuja tem complicações de ordem biológica, psicológica e social. Ou seja, não vai ser uma internação forçada e contra a vontade do paciente que irá faze-lo aderir um processo terapêutico da proporção que é doença “dependência química”.
Voltando as matérias veiculadas onde um ex-dependente afirma que após a internação involuntária está recuperado, é importante frisar que ele relatou que era sua 25ª internação. Ou seja, este ex-dependente, já possui um estagio avançado de conhecimento sobre dependência, que certamente, o ajudou conseguir manter a sobriedade. A matéria não comentou, mas certamente, esta pessoa foi obrigada a se internar por alguma razão forçada. A partir, dos vários processos de recuperação que ele tenha passado colaborou para que nesta ultima internação, atingisse de fato uma condição para manter-se sóbrio.
Já no caso do Juiz, evidentemente na sua fala, transpareceu estar preocupado com o jovem se drogando nas ruas e com os problemas que ele causa para a sociedade. No entanto, leva a entender um total desconhecimento quanto ao processo de tratamento da dependência química. Enfim, a sua fala é mais em relação à questão social do que de saúde.
Por diversas vezes, escrevi artigos sobre a não eficácia do tratamento compulsório obrigatório para dependência química, pois, uma instituição para manter um dependente químico em tratamento obrigatório, precisa ter uma metodologia rígida e violenta. Uma violência em relação aos fármacos, que compromete psiquiatricamente o paciente. Além do que, não vai resolver, pois ele saindo da clinica voltará usar drogas novamente, como também é preciso frisar que um tratamento obrigatório vai contra os Direitos Humanos e contra a ética médica.
Por fim, a questão em si, não é internar obrigatoriamente, mas dar condições para que as famílias, que os dependentes tenham entidades para o tratamento, o que não há. O importante, é que o Estado, leve a sério o problema das drogas e não use esta desgraça como palanque eleitoral, como faz todos os anos eleitorais. O importante, é que o Estado olhe para as 90% das entidades civis que atuam nesta área e dê a elas condições através de recursos financeiros, recursos humanos e treinamentos para que de fato elas possam, cada vez mais, atender um maior numero de dependente como também melhorar a qualidade de seus tratamentos.
Não duvidas que entidades mais preparadas, com recursos financeiros irão convencer muitos dependentes químicos procurarem tratamento para sua doença de maneira espontânea e assim, conseguirem de fato saírem das drogas. Ou seja, grande maioria das entidades que atuam no tratamento possui a linguagem adequada para persuadir um dependente e convence-lo a se tratar, no entanto, elas precisam de recursos, de treinamento. Enfim, quando de fato o Estado deixar de fazer demagogia com este assunto e sentar com as entidades e todos que atuam nesta área e criar políticas sérias, certamente, pode-se ter um avanço no que tange ao tratamento destes doentes que na maioria das vezes, nem se dão conta que estão doentes e precisa-se tratarem.
Ataíde Lemos
Escritor e poeta
Embaixador da Paz
Autor do livro " O amor Vence as Drogas"