Gostaria de abordar um tema que é muito delicado, mas infelizmente, é corriqueiro ocorrer com os dependentes químicos quando estão em tratamento nas comunidades terapêuticas que é; o abandono de seus familiares.
É natural – porém, não justificável – que os familiares acabam-se desgastando com seus entes dependentes que se adoecem a tal ponto de não se importarem mais com eles, ou seja, acabam abandonando-os, como se eles não fizessem mais parte da família.
O tratamento de um dependente químico se dá através da participação da família, ou seja, para que de fato, um dependente consiga manter sobriedade é fundamental contar com o apoio de seus familiares, bem como é essencial para os familiares participarem do tratamento de seu ente, pois eles também estão doentes, e como toda doença, para que atinja sua cura é preciso que todos os órgãos afetados sejam tratados. Portando, não basta que o dependente esteja numa clinica em tratamento se seus familiares não estejam inseridos também nele.
O que muitas vezes, vemos ocorrer é que a família ao colocar seu ente numa clinica, esquece dele lá. É como se estivesse tirando um peso de seus ombros transferindo-os para a instituição. Em muitos casos, elas sentem se aliviadas, pois sabem que na entidade eles estão sendo cuidados, ou seja, não estão jogados nas ruas, não estão dando preocupações. Estão sendo bem alimentados, etc., esquecendo que na instituição é por um período transitório, isto é, um dia ele sairá de lá e voltará para as ruas e tudo recomeçará de novo se de fato não estiverem sóbrios.
A grande maioria dos dependentes que dão entrada nas comunidades terapêuticas – instituições mais pobres – ocorre através da assistência social do município; entidades civis de acolhimento, por indicação de pessoas caridosas. Ou seja, estes dependentes já estão descartadas pela família, e naqueles casos onde a família que procura internação, parte delas só aparece na entidade para internar depois desaparecem. Sendo assim, é um trabalho árduo o tratamento deles, pois lhes falta o essencial que é a presença dos familiares.
Durante muitos anos, atuando no tratamento de dependentes químicos, o dia mais triste era o dia da visita dos familiares, pois, na maioria das vezes, nem 10% dos internos recebiam visita. Ou seja, no único dia que a família tinha para visitar e dar força para seu ente internado ela não comparecia.
Ainda é preciso dizer, que no estatuto, no regimento da maioria das comunidades terapêuticas, há uma norma que exige a participação da família no tratamento. Este comparecimento é para que ela saiba como está o processo de recuperação de seu ente, para participarem de palestras sobre co-dependência. Há também uma norma que exige que a família participe de algum grupo de mutua ajuda, no entanto, a imensa maioria delas, não participa. Então, as instituições ficam num dilema, ou dispensam os recuperando cuja família não cumpra tais normas, ou os mantém em tratamento. Muitas delas, optam por mantê-los, pois o amor por eles, sobressai ao regulamento.
Enfim, é fundamental que as famílias de dependentes químicos, não permitam que a doença os faça tornar-se frias a ponto de abandonar seus entes doentes (dependentes químicos), pois esta atitude já é um sinal claro que de elas estão doentes também. É importante frisar que a cada internação deve-se brotar uma esperança, ainda que possam ser varias internações. Cada dia é um novo dia, e cada momento é momento novo. Também é importante, que as famílias não veja uma instituição de tratamento como algo que vai dar ao seu ente mais dignidade ou proporcionar uma tranqüilidade para ela. Evidentemente, é infinitamente melhor estar numa clinica do que estar nas ruas, passando frio, fome, se drogando e a tensão da má noticia a qualquer hora, porém, é fundamental que a família participe do tratamento de seu ente. É importante que a família se insira no tratamento, para que possa curar de sua co-dependência que há.Uma doença tão grave quanto à própria dependência.
Ataíde Lemos
Escritor e poeta
Autor do livro "O Amor Vence as Drogas"
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