Diante de tragédias relacionadas às drogas como assassinatos e suicídios de pessoas que possuem um certo destaque no cenário nacional, ressurgem as discussões sobre dependência química. Sobre o que não se faz e o que precisa ser feito.
Infelizmente, muitos estão morrendo vítimas das drogas e parece que pouco se tem feito. Temos visto pessoas que desesperadamente tomam atitudes extremas e absurdas, como acorrentar o filho, ou então fazer celas na própria casa para que o filho não se drogue.
Em todos os casos, o que sempre podemos observar na fala destes familiares desesperados, é a inércia e a ausência do Estado. Pessoas que estão à deriva sem ter a quem recorrer.
Como alguém que trabalha na área de dependência química, conheço bem a realidade dessas famílias, como também conheço a omissão do Estado. As entidades terapêuticas estão tão abandonadas quanto as famílias. Não há acompanhamento, não há ajuda financeira, enfim, as entidades que atuam nesta área, sofrem os mesmos abandonos e descasos. Por isso, muitas vezes não conseguem dar ao dependente químico nem o mínimo do tratamento exigido.
A grande maioria das Comunidades Terapêuticas (CTs), não possuem terapeutas ocupacionais e psicólogos – profissionais básicos nesse tipo de tratamento – a necessidade de pessoal é suprida apenas por recuperandos, que já se encontram em uma fase mais adiantada dentro do tratamento na instituição, mas que sobrevivem das migalhas que recebem como doações, sejam elas vindas dos familiares de alguns recuperandos ou de pessoas de boa vontade. Enfim, as CTs apenas fazem tratamentos paliativos, recorrendo à espiritualidade e à fé. Isto é, entregando tanto a entidade quanto o recuperando nas Mãos de Deus para conseguirem vencer a dependência.
É comum se criticarem as CTs por fazerem uso da espiritualidade com seus recuperandos, mas deixo algumas perguntas em aberto: como não recorrer à espiritualidade, num País que não está nem aí para o tratamento de dependentes químicos? Que não faz nada para que as entidades possam dar um tratamento adequado e digno aos seus recuperandos? Como as entidades (CTs) podem dar melhor qualidade de tratamento, se não têm recursos financeiros nem para manter profissionais de saúde e nem mesmo para dar suporte aos voluntários desta área?
Enfim, é complicado imaginar uma mudança no quadro de violência ou de saúde, quando o assunto é drogas, pois o Estado sempre que faz alguma coisa, faz mal ou pela metade, isso quando também não está ausente.
Infelizmente, o quadro de desespero de pais que têm filhos dependentes químicos como também dos absurdos que cometem, não vai ter um fim imediato, pelo contrário, cada vez aumentará mais, pois cada dia aumenta o número de dependentes químicos e diminui o de entidades destinadas ao tratamento.
É comum a televisão fazer matérias sensacionalistas com entidades que tratam mal os recuperandos (dependentes químicos) e também sobre algumas entidades de renome nacional, que recebem recursos sejam do Estado ou de grandes empresários ou ainda de entidades do exterior, mas nunca vi matérias feitas nas maiorias das CTs que são pobres, mas sérias e que procuram fazer seus trabalhos mesmo sem ajuda, vivendo no total abandono do Estado. Entidades estas que são na maioria das vezes, acolhedoras dos dependentes que não possuem nenhum recurso financeiro.
Em suma, é difícil parte da sociedade querer mudar a realidade das drogas e dos dependentes, se a maioria dela (sociedade) não está nem aí ou somente se interessa por este problema, quando passa a vivê-lo em sua própria casa.
Ataíde Lemos
Autor dos livros Drogas um vale escuro e grande desafio para familia
O Amor Vence as Drogas
Autor dos livros Drogas um vale escuro e grande desafio para familia
O Amor Vence as Drogas
Revisão:
Vera Lucia Cardoso
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